domingo, 27 de janeiro de 2013

*Carta de uma dor


Minhas cartas talvez não cheguem  em tempo certo. Talvez precisem percorrer por mais dias os mares todos e as estradas empoeiradas.

Mesmo assim, eu as escrevo com o mesmo e antigo ímpeto: minha mocidade disse adeus, por fim.

E eu vejo no espelho um rosto que não me assusta, pelo qual tenho um profundo respeito.

Por isso me lembrei de nossas conversas diante do antigo farol. Sei que você se lembra também.

A madrugada nos pegava cansados mas felizes, repletos de ideias e sonhos tantos que nem éramos apenas nós, mas uma multidão.

Hoje, amigo, não tendo com quem dividir a paisagem vista do farol, minha solidão entristece e chora algumas vezes. E olho para o céu buscando o mesmo infinito onde, um dia, encontrei meus sonhos

e a alegria de deixar brotar uma vida de mim.

Eles não esão lá. Estão, talvez, no fundo do mar que o farol ilumina e até tenha se transformado em corais.

O fato é que não me pertencem e os que estão por perto me torcem o nariz.

Eles sim, acham-me envelhecida e reviram os olhos quando digo qualquer coisa que possa ter o tom

de ensinamento.

Coisas da vida, diria você, com seus olhos graves e parados nos meus.

Coisas da vida, concordaria eu, tomando sua mão para me lembrar que tenho alma

que me responde. Onde quer que esteja.

..

Espero que o tempo lhe esteja sendo ameno.

Que a vida tenha um belo sorriso nos lábios ao encontrá-lo, todas as manhãs.

E que, quando os deuses permitirem, encontre comigo

nas praias de areia branca e fria.

...