quinta-feira, 18 de setembro de 2008

**carta da manhã**

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Lá fora, a madrugada deu espaço às primeiras cores da manhã e logo a luz vai inundar tudo o que vejo, tudo o que me cerca.
A sensação é a de que, se a noite foi longa, o dia pode ser
ainda mais precioso, uma bela página a ser escrita.
Com devoção.Estive pensando, durante o tempo em que esperei uma resposta sua, sobre as manhãs que vêm azuis cobertas do ouro de um sol menino. Você as chama de manhãs sagradas - são jóias preciosas demais para passarem despercebidas. Senti uma falta enorme de trocar idéias ou mesmo olhares com você. Há tão poucas pessas neste mundo que me entendem e, como você, não há mais ninguém. Chego a duvidar que você exista, muitas vezes - quando a noite é muito longa, sei que me sinto mais só do que deveria.
Então, escrevo para o vento da madrugada ou mesmo para a chuva ou,
até, para uma estrela que vi caindo - não há para onde cair, pois o universo é infinito.
Mas, escrevo.
E sigo numa linda que já nem sei se é reta ou para onde vai, porém escrevo e sigo.
E seguir é como uma canção que vou compondo dia após dia,
mesmo quando sinto ou penso que você não receberá, não lerá o que escrevo.
As cartas têm o dom de transformar o que a princípio parece não ter sentido.
Elas carregam sentimentos e o peso deles se faz precioso em cada linha.
Contudo, os olhos e a alma de quem lê acrescenta muito ao que se escreve.
Porque as palavras tomam um significado diverso para cada ser.
A gente toma para si as palavras,
apodera-se delas e faz do seu conjunto um momento pessoal, único.
Por isso, às vezes, eu me sinto como se pescasse
a energia dos sentimentos e das emoções que estão pelo ar.
E, quando retorno de tais pescarias, sinto-me repleta de milhares de pessoas.
Ou...de apenas uma...a quem jamais vi...com quem jamais falei...
É...para isso também servem as madrugadas em que me derramo
esperando as primeiras luzes da manhã.
Servem para me reconhecer aprendiz e, e alguma forma,
catalizadora do que se passa daqui até o topo do Himalaia.
E por que não?Há tanto o que sentir e perceber e há tanto mistério
em tudo ao nosso redor, ainda...
Pronto. Já é manhã.Devo, agora, ocupar meus pensamentos com as coisas deste dia
e ir escrevendo-o - ou sobre ele - para ir realizando a história de uma história.
Talvez a minha, talvez a sua.
Talvez a de mais alguém. Ou a de ninguém, ainda.
Contudo, eu me disponho a fazê-lo.
Com devoção...
A.
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