quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

*carta de um novo ano*

Havia meses que eu não escrevia uma carta sequer. Não que houvesse vazio os que as palavras se perdessem. Apenas abandonei - por um período - as cartas. Talvez em meu íntimo eu soubesse que você não as receberia de pronto e, assim, elas seriam mais inúteis que aquela chuva que cai sem encharcar a terra depois de longa estiagem...
Agora, pressinto seus olhos e seu coração voltado às minhas letras derramadas assim, livremente... e, além disso, é o último dia deste ano.
Eu não poderia fechá-lo sem dirigir-me a você - tão distante e tão próximo amigo de minhas palavras e de meus sentimentos.
Este dia, especialmente, vem com uma certa tristeza para mim - desde sempre. Não me pergunte por que, pois não conseguiria definir para lhe dar resposta.
Nem encontro, tampouco, uma figura de linguagem que me forneça um símbolo mesmo próximo de meu sentir.
Tudo que sei é que é uma sensação antiga e cansada.
Hoje, no entanto - é, neste preciso 31 de dezembro - ela somou-se a uma sensação de vazio. Gasta, enfadonha. E presente.
Reviro as gavetas buscando na memória dias em que estive próxima a você e que me deram o sentir de plenitude ao terminar esse tipo de ciclo do tempo linear... onde estão as fotos que guardei em minhas retinas?
Parece-me que o vazio é tão poderoso que invadiu tudo por aqui.
Parece-me que nenhum devaneio poderia aprisioná-lo a um canto enquanto eu me vestisse de alegria usando as roupas que nós dois fizemos, um dia, para colorir dores...
Hoje, precisamente. Nada sinto. Nem mesmo saudade.
Nada.
O que me assusta é o deserto de que jamais fui feita e onde, à noite, faz um frio insuportável para meu sangue quente e apaixonado de viver.
Entretanto, é mais uma experiência entre tantos sentires...e a ela me dirijo com a coragem que me cabe, já que o traçado de meus revezes é tão conhecido meu. E seu, também....amigo peregrino.
Assim, o que me resta por agora é tentar invadir sua órbita com um longo e afetuoso abraço meu. E, enquanto ropiarmos enlaçados a ouvir e admirar as estrelas, sussurrar como elas em seu ouvido e desejar: " bom recomeço, amigo...bons ventos a guiarem seu voar..."
De olhos fechados, buscarei reter o momento e finalmente trazê-lo comigo; será como um lenço umidecido em perfume a tornar minhas gavetas deliciosas caixas de recordação...
E, quando um cometa passar ventando, tão próximo a nós...acordarei tristonha do outro lado do mundo, mas repleta, ainda, de você.
Agradeço por você estar aí...em algum lugar...mas respirando e vivenciando nossa ternura.
E por partilhar...

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