sábado, 14 de agosto de 2010

*carta de um novo sábado


Ainda assim, os sábados parecem ser sempre os mesmos, por aqui. O que muda, são as estações, de fato.
Hoje, é um sábado de inverno.É noite de sábado de inverno, do mês de agosto-desgosto [?]
E, é claro, muda também a imagem que me olha, do espelho, enquanto penteio os cabelos.
Eu me lembro de você, meu amigo, e sorrio.
Um sorriso sem memória. Afinal, há quanto tempo tem sido o destinatário de minhas cartas e, ao mesmo tempo, o remetente de notícias breves, porém valiosas?
Não, não sei. E não há por que saber, tentar buscar o fio da meada, puxar até encontrar o final [começo]: o que vale é a constância de tudo. Principalmente, das palavras que cruzam céus e oceanos e caem, mornas ainda, em meu colo e no seu.
Estou com algumas aqui, diante de mim, na verdade. Palavras.
Elas têm ritmo, cor,som, cheiro e até sabor, para mim.
Para mim e para outras tantas pessoas que se apaixonam, de forma inexorável, por elas.
Algumas estão aqui, portanto. Jazem em meu colo, quietas, mansas, mas ainda mornas.
Vêm de algum lugar chamado Aprilia e eu gosto do som. Repito várias vezes, em voz alta para ouvir. Aprilia...Aprilia...
Leio que é na região do Lácio, Itália. [e por falar em palavras...você escreveu justamente da região de onde a fluência das palavras que trocamos saiu...]
Aprilia, Aprilia...
Reconheço na maneira como escreve que estava, na ocasião, gostando pouco do lugar.
Isso não é comum em você.
Não é comum que não ame cada passo que dá, cada gole sorvido, cada cheiro sentido.
Talvez seja apenas o meu olhar percorrendo suas palavras escritas na letra bonita e apressada.
Talvez seja, apenas, a inquietude que me consome, às vezes, em pensar que todos podemos estar sujeitos a amar menos a vida em determinados momentos.
Mas...não gostar da vida em alguns pontos dela não significa que não a amemos e que estejamos desistindo dela.
É amigo...há muito tempo, tirei de mim o direito de sentir algumas coisas...
mas só me dou conta disso agora...
Sábado à noite.
Tão igual, tão mesmo. E, tão sábado em todos os poros da noite fria!
E eu, eu escrevo sobre os desatinos de minha mente/alma.
Porque você irá ler e pensar, comigo, nas agruras que, sabemos bem, nos enredou.
E que outras poderão ainda vir.
Compartilhar tem sido meu apego.
Receba um sopro mais aliviado de mim.
E as luzes gravadas em minhas retinas: da cidade que já foi sua.
.
Eu fico. As palavras vão.
Não...eu vou...as palavras é que ficam.
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